domingo, 25 de março de 2012

Um deserto sem fim e um rio logo ali





Quando penso num deserto, penso no sol ardente, nas dunas de areia, na vegetação escassa, nos espaços vazios, numa amplidão sem fim. Penso também na solidão, na provação, no perder-se em meio à imensidão, onde os limites da vida são testados.
Todos nós atravessamos um deserto em algum momento das nossas vidas. Para alguns essa passagem é rápida e momentânea, para outros é longa e duradoura.
A Bíblia nos fala várias vezes sobre o deserto. Dois eventos bíblicos me chamam a atenção: a peregrinação dos hebreus no deserto até chegar à terra prometida e  quando Jesus retirou-se para o deserto, antes de iniciar seu ministério.
O primeiro evento foi desencadeado por um  grande milagre: a abertura do mar vermelho e a passagem milagrosa dos hebreus livres para a jornada em direção à terra prometida. Do primeiro passo, no solo úmido do mar vermelho até o último, nas terras férteis de Canaã, foram 40 anos.
Por outro lado, Jesus, quando se retirou ao deserto, o fez sem grande alarde. Foi uma jornada solitária que durou 40 dias. Há muitas lições que podemos aprender nas duas situações ilustradas.
Uma das grandes dificuldades de Moisés foi lidar com um povo que tinha a mentalidade de escravo. Acostumados a serem humilhados e aterrorizados pelos líderes egípcios, os hebreus não conseguiam conceber um Deus, que não só os resgatava da servidão para trazê-los para a liberdade da terra prometida, mas também para uma íntima relação com Ele.
Jesus já desfrutava de uma relação íntima com o Pai. Mesmo em sua condição humana, sabia de sua identidade divina. O povo hebreu saiu para o deserto em grande milagre. Jesus voltou do deserto para fazer grandes milagres.
Penso que muitas vezes nos achegamos a Deus mais como escravos recém libertados, do que como filhos amados do Pai. E porque não conhecemos esse Deus amoroso peregrinamos num deserto sem fim, andando em círculos de desobediência, desapontamentos, caindo em armadilhas, nos machucando e magoando os outros. Perdemos tempo, forças, energias... não conhecemos o Pai. Temos receio de nos aproximarmos dele. Não entendemos sobre a sua glória e santidade.
Que bom se seguíssemos o exemplo de Jesus, que adentrou no ambiente inóspito do deserto sabendo que as tentações viriam, mas por que ele sabia quem era, não entrou em crise. A cada nível de tentação, sua resposta trouxe derrota ao inimigo, que teve de retirar-se envergonhado.
Penso no deserto que já caminhei, nas estradas que já trilhei sob o sol ardente, sem entender que o rio estava logo ali. Foram atalhos, que levaram a caminhos ainda mais distantes. A volta tem sido dolorosa...
Mas o deserto não é só lugar de provação, é também de provisão, e por fim, de purificação. Lá pude mergulhar nas cavernas do meu ser e deixar para trás aquilo que me separava de Deus e entender por que fracassei tantas vezes em ver o propósito de Deus na minha vida. Nesse processo de conhecimento comecei a experimentar uma transformação de escrava para filha amada.
No deserto encontrei o único alimento que sacia a minha alma completamente: a presença de Deus. Como um jardim escondido, um oásis, ela vem e refresca a minha alma. Toda a paisagem se transforma e ribeiros de água se descortinam diante de mim. Ao invés de temer a Sua presença, corro para Ela desesperadamente, pois necessito da Sua vida para então viver a minha. Neste lugar secreto do coração do Pai, posso viver na sua luz.
Por que encontrei a fonte da vida, já não ando a esmo.  Já vejo o rio logo ali adiante da terra prometida (o centro da vontade de Deus). Tenho a nuvem de dia a me proteger e a coluna de fogo à noite a me guiar, mas principalmente tenho a presença do Pai a me fazer companhia.
Sei que a travessia é eminente e, mesmo que existam gigantes, a vitória já me foi concedida. É lá, do outro lado que o centro da vontade de Deus está. Armarei então a minha tenda, contemplarei as planícies verdejantes, reaprenderei a viver numa terra que mana leite e mel. E o altar? Este já foi erguido no meu coração durante o percurso.  E Jesus entronizado, será glorificado para sempre na minha vida, numa aliança que nunca terá fim.

Com amor em Cristo,

Vilma

 


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