Um quarto de hotel, um homem sem nome e um livro da capa vermelha
E o tempo foi passando e a minha busca por aquele Deus invisível continuava. Trilhei alguns caminhos que não me levaram a saciar a sede que sentia. No início dos anos de 1980 ser crente ainda não era tão popular. Nunca conheci ninguém evangélico em toda a minha infância e adolescência. Agora com pouco mais de vinte anos, algo novo estava prestes a acontecer. Eu estava num quarto de um hotel numa cidade do Mato Grosso do sul (Aquidauana). Tinha ido vender umas confecções, trabalho que aprendera com minha mãe, que tinha uma pequena fábrica de roupas bordadas do Ceará. Naquela noite, cansada, longe de casa pela primeira vez sozinha, me deparei com um pequeno volume do Novo Testamento, do ministério dos Gideões, aqueles que encontramos nos hotéis. Peguei aquele livrinho e comecei a folhear as suas páginas. A linguagem era bem diferente, não conseguia entender o significado dos textos, o que aumentava minha angústia. Então falei com Deus de uma forma simples. Depois entendi que fiz ali uma oração singela. Eu disse assim: Ah Deus, eu queria tanto entender o que está escrito neste livro.... As lágrimas caíam dos meus olhos. Fechei o livro e tentei dormir.
Uns dois dias depois comecei a viagem de volta para casa. Havia um longo caminho de ônibus até Fortaleza. Sentei na janela, onde podia ver a paisagem se modificando do sul ao nordeste do Brasil. No meu lado está um homem, uns vinte e poucos anos mais velho do que eu, de aparência humilde, de um olhar amável, a sorrir timidamente para mim. Depois de algum tempo ele tira da mochila uma bíblia. Eu olho curiosa. Nunca tinha visto alguém com uma bíblia pequena, de mão. Lá em casa tinha uma bem grande que ficava de enfeite na sala, mas ninguém lia. Depois de algum tempo, venci a timidez e começamos a conversar sobre alguma passagem que ele estava lendo. Foram dois dias de conversas. Ele me respondia sobre várias doutrinas católicas, como o celibato, purgatório, batismo de crianças, etc. Falei do meu trabalho, da universidade, etc e assim conseguimos enfrentar o longo caminho de volta para casa.
Depois de alguns dias, quando cheguei ao meu trabalho, meu irmão me mostrou um pacote pequeno que um homem havia deixado lá. Sem saber o que seria, abri. Não havia bilhete,nem cartão. Lá estava um livro pequeno, mais volumoso, de uma capa vermelha. Era uma bíblia! De uma edição católica, tinha as páginas fininhas e as letras bem pequenas e vermelhas, mas era a minha primeira bíblia e agora poderia lê-la na privacidade do meu quarto.
Nunca mais vi aquele homem, não sabia seu nome, não tinha nenhum contato dele. Pela descrição do meu irmão, era ele sim que havia deixado a bíblia. O tempo passou e chegou o dia em que fui a uma igreja evangélica e entreguei minha vida a Jesus (mais essa é outra história). Era o tempo das grandes cruzadas evangelísticas e mais ou menos um ano depois estava eu, com outros jovens, num ginásio coberto aqui em Fortaleza, para assistir um pregador. Lá ao longe, em outra arquibancada, vi aquele homem. Fui então pacientemente andando entre as pessoas até chegar a ele. Quando ele me viu abriu um sorriso largo e eu aproveitei para lhe agradecer a bíblia. Trocamos algumas palavras e, eu timidamente afirmei: Eu agora sou crente! Ele respondeu prontamente: Eu também! Ambos sorrimos e eu voltei para o meu lugar. Deus permitiu que eu visse aquele homem apenas aquela vez para me mostrar como ele faz a sua obra nas nossas vidas.
Aquela oração no quarto daquele hotel, numa terra tão distante, um homem sem nome, cujo rosto não consigo lembrar, mas que na sua busca, foi sensível o suficiente para abençoar a minha. e o livro da capa vermelha, a bíblia, mudaram a minha vida para sempre. Há um versículo que diz:
“Buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração”. Jeremias 29:13.
É tempo de buscar a Deus e ele, com certeza, se deixará encontrar.
Que Deus te abençoe,
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